O bar, a gente toda,
A esquina, o mundo.
(O mundo na esquina da vida!)
A desculpa sempre discreta.
O sonho, o eterno caminho!
O andar cansado do rio
Buscando uma cachoeira de paz...
O vento descalço voa
Segurando na calda penteada do tempo!
O preço da fome...
A fome de alimentos...
A fome de palavras...
O preço na tabela da vida,
A vida estampada na parede do supermercado!
..."e o Espírito de Deus ressurgirá dos mortos!"
E aí os preços serão reajustados...!
E o bar de luzes eternais
Apagou-se no vazio...
É a minha hora do julgamento...
No calendário pornográfico
É o trigésimo dia de julho,
Octagésimo primeiro ano do século vinte...
Tudo não passou de fantasia!
A minha energia está se recompondo.
O meu fracasso foi a minha maior vitória;
E a derrota, uma desculpa esfarrapada
Para continuar vivendo.
Apesar de tudo, o caminho não foi aquilo...
Intransponível!
Mas foi longo e árduo.
Bem, como toda fita de Hollywood
O mocinho, apesar de ferido e cansado, chegou...!
O bar, a gente toda.
A luz da minha estrela!
O andar do rio.
A falta de palavras...
Uma erupção de sentimentos!
O mundo na esquina da vida!
Eu e meu ego, meu orgulho indestrutível!
A carne que cobre meus ossos,
A matéria que reveste minha alma...
Minha alma de passarinho
Voando livre na ternura da brisa...
Voando, voando em busca do meu tempo...!
Otail Santos de Oliveira - Pouso Alegre (MG), 30 de julho de 1981.
domingo, 17 de outubro de 2010
Maresia
Vou me perder
além das montanhas,
além das montanhas
no alto mar!
Onde mora "Serene"
a bela princesa,
"Serene" das profundezas...
Princesa do Mar!
Vou além das nuvens,
por de trás do céu,
por de trás do céu
no alto mar!
Ver o meu amor sereia,
cujos os olhos são o verde das águas,
e os cabelos a areia...
São as macias areias do mar!
Se o meu amor não encontrar,
vou chorar tempestades,
vou chorar tempestades
no alto mar!
Vou afundar os barcos dos pescadores,
os malditos pescadores
que deram a ela as dores,
dores desconhecidas no mar!
E então vou inundar
toda a terra,
toda a terra
além do mar!
Vou matar minhas mágoas,
vou encontrar "Serene"
morto nas águas,
nas águas profundas do mar!
Otail Santos de Oliveira - Santos (SP), 03 de janeiro de 1981.
além das montanhas,
além das montanhas
no alto mar!
Onde mora "Serene"
a bela princesa,
"Serene" das profundezas...
Princesa do Mar!
Vou além das nuvens,
por de trás do céu,
por de trás do céu
no alto mar!
Ver o meu amor sereia,
cujos os olhos são o verde das águas,
e os cabelos a areia...
São as macias areias do mar!
Se o meu amor não encontrar,
vou chorar tempestades,
vou chorar tempestades
no alto mar!
Vou afundar os barcos dos pescadores,
os malditos pescadores
que deram a ela as dores,
dores desconhecidas no mar!
E então vou inundar
toda a terra,
toda a terra
além do mar!
Vou matar minhas mágoas,
vou encontrar "Serene"
morto nas águas,
nas águas profundas do mar!
Otail Santos de Oliveira - Santos (SP), 03 de janeiro de 1981.
Cotidiano Urbano
Sopa na mesa!
A angústia vem para a sobremesa...
Nos olhos um sorriso amarelo,
Na boca os dentes da fome.
Tristeza soa como um nome
Sem o porte físico belo...!
Lençol de saco na cama!
O cansaço inaugura o drama...
Nas mãos a sorte do calo ardente,
Nos pés a recusa de andarilhos,
Na mente o ruído dos trilhos...
E o corpo transpira a aguardente.
O sol chega como uma morte!
O galo anuncia a má sorte...
O caminho é longo, a ansiedade é pouca...
O preço da passagem é um afano,
Mas lá vem o suburbano
Na sua metódica corrida louca!
É podre o dinheiro sofrido!
Mais, é por ele ter morrido!
Mas ele vai, briga e morre...
E toma o trem de volta para casa.
Antes no bar, a ilusão cria asa
E o coração cansado toma seu porre!
Sopa na mesa!
O desespero vem para a sobremesa...
Junto com a fome a desgraça...
E nada se faz quando é verdade,
pois nada se tem só de bondade,
que justifique essa vida sem graça!
Otail Santos de Oliveira - Pouso Alegre (MG), 20 de setembro de 1980.
A angústia vem para a sobremesa...
Nos olhos um sorriso amarelo,
Na boca os dentes da fome.
Tristeza soa como um nome
Sem o porte físico belo...!
Lençol de saco na cama!
O cansaço inaugura o drama...
Nas mãos a sorte do calo ardente,
Nos pés a recusa de andarilhos,
Na mente o ruído dos trilhos...
E o corpo transpira a aguardente.
O sol chega como uma morte!
O galo anuncia a má sorte...
O caminho é longo, a ansiedade é pouca...
O preço da passagem é um afano,
Mas lá vem o suburbano
Na sua metódica corrida louca!
É podre o dinheiro sofrido!
Mais, é por ele ter morrido!
Mas ele vai, briga e morre...
E toma o trem de volta para casa.
Antes no bar, a ilusão cria asa
E o coração cansado toma seu porre!
Sopa na mesa!
O desespero vem para a sobremesa...
Junto com a fome a desgraça...
E nada se faz quando é verdade,
pois nada se tem só de bondade,
que justifique essa vida sem graça!
Otail Santos de Oliveira - Pouso Alegre (MG), 20 de setembro de 1980.
sábado, 28 de agosto de 2010
O Lago
Paro o meu tempo e o meu espaço
e entrego minha atenção ao grande lago...
Ele embeleza o horizonte com a constante
ondulação de seus cabelos transparentes!
Engole as margens de árvores verdes,
grama orvalhada e flores coloridas...
Lanço o meu olhar por cima de suas águas,
brindando a brisa com arrepios longos!
E é como se o lago entrasse em mim,
arrombando minhas entranhas, calma e tranquilamente...
Cubro meus olhos,
e minhas mãos suam de forma a suprir as necessidades do lago...
Refletido em seu espelho está o sol;
está o céu, trazendo em seu azul
todo um universo de planetas,
estrelas,
luas
e lagos...
Fico ali olhando para ele
até que a realidade chegue estampando-se
por sobre meus pés.
Do lago fica apenas a lembrança...
o cheiro...
um pequeno rumor.
Otail Santos de Oliveira - Pouso Alegre (MG), 15 de maio de 1991.
e entrego minha atenção ao grande lago...
Ele embeleza o horizonte com a constante
ondulação de seus cabelos transparentes!
Engole as margens de árvores verdes,
grama orvalhada e flores coloridas...
Lanço o meu olhar por cima de suas águas,
brindando a brisa com arrepios longos!
E é como se o lago entrasse em mim,
arrombando minhas entranhas, calma e tranquilamente...
Cubro meus olhos,
e minhas mãos suam de forma a suprir as necessidades do lago...
Refletido em seu espelho está o sol;
está o céu, trazendo em seu azul
todo um universo de planetas,
estrelas,
luas
e lagos...
Fico ali olhando para ele
até que a realidade chegue estampando-se
por sobre meus pés.
Do lago fica apenas a lembrança...
o cheiro...
um pequeno rumor.
Otail Santos de Oliveira - Pouso Alegre (MG), 15 de maio de 1991.
Desabafo
Aqui, diante do meu túmulo,
de frente para a lápide gélida,
as mãos no peito, olhando o espaço...
Onde vais minha vida???
Por que tão longe aprumas entre as nuvens???
Sinto não poder mais entrar em teus olhos,
e quando as estrelas voltarem do oriente,
talvez eu já não esteja entre teus dedos.
Tenho agora o dever, de súbito,
sem temer, de me dar a tua majestade.
Pouco te importas se rasgo meu peito,
se dilacero minhas víceras...
Tenho mesmo que entregar aos abutres,
meu coração, para saciar-lhes a fome!
E tu, perfume incandescente,
passeias livre por minhas alucinações...
Enquanto rastejo na lama desses dias fétidos,
tu e tua corte festejam pelo caminho das flores...
Não há mais o que buscar dentro da nossa paixão:
- o lugar comum entre nós
são "o vazio" de nossas almas,
perdidas além dos nossos pesadelos!
Incógnito dentro da noite
atropelo todas as leis:
- Imagino-me Napoleão,
não em triunfo,
mas derrotado!!!
(Waterloo no século XX)...
Muito mais que a morte,
esquecido eternamente...
Aqui, agora, diante do meu túmulo,
nem mesmo a gélida lápide guarda:
- um nome obscurecido pelos musgos,
- um número perdido entre milhares...!
Otail Santos de Oliveira - Pouso Alegre (MG), 27 de setembro de 1990.
de frente para a lápide gélida,
as mãos no peito, olhando o espaço...
Onde vais minha vida???
Por que tão longe aprumas entre as nuvens???
Sinto não poder mais entrar em teus olhos,
e quando as estrelas voltarem do oriente,
talvez eu já não esteja entre teus dedos.
Tenho agora o dever, de súbito,
sem temer, de me dar a tua majestade.
Pouco te importas se rasgo meu peito,
se dilacero minhas víceras...
Tenho mesmo que entregar aos abutres,
meu coração, para saciar-lhes a fome!
E tu, perfume incandescente,
passeias livre por minhas alucinações...
Enquanto rastejo na lama desses dias fétidos,
tu e tua corte festejam pelo caminho das flores...
Não há mais o que buscar dentro da nossa paixão:
- o lugar comum entre nós
são "o vazio" de nossas almas,
perdidas além dos nossos pesadelos!
Incógnito dentro da noite
atropelo todas as leis:
- Imagino-me Napoleão,
não em triunfo,
mas derrotado!!!
(Waterloo no século XX)...
Muito mais que a morte,
esquecido eternamente...
Aqui, agora, diante do meu túmulo,
nem mesmo a gélida lápide guarda:
- um nome obscurecido pelos musgos,
- um número perdido entre milhares...!
Otail Santos de Oliveira - Pouso Alegre (MG), 27 de setembro de 1990.
sábado, 30 de janeiro de 2010
Amo, e te amo assim
Amo, e te amo assim
bem pertinho de mim...
quando longe, bem além,
amo, e te amo também!
Só sei que o meu amor
não tem fim,
por isso,
amo, e te amo assim,
embriagado em seu
perfume de jasmim...
quanto eu amo do teu amor
vagando livre sobre a flor
trazendo sorrisos para mim...
amo, e te amo assim
voando no seu céu
feito querubim.
Otail Santos de Oliveira - Pouso Alegre (MG) - 20 de agosto de 1980.
Mãe
De repente,
do olhar perdido
no horizonte
um brilho,
um lampejo
de amor
cora-lhe a face...
a que era menina
torna-se mulher...
um sentimento
envolve-lhe
o coração
e aquela excitação
satisfeita
transpõe-lhe
o ventre virgem,
levando vida
ao seu interior...
o corpo transforma-se
cedendo a infantil
silhueta
espaço para o
gentil semblante
de senhora...
o fogo da vitória
queima-lhe nas trompas
caminhando em busca
do casulo.
Sua chegada provoca
uma grande alegria
na alma,
enquanto na eternidade
os anjos festejam...
Uma mãe nasceu!
Otail Santos de Oliveira - Pouso Alegre (MG) - 07 de julho de 1979.
A velha da casa velha
Parede rachada
telhado escuro
pó na calçada
caído do muro
Parede amarelada
sem tinta ou repasse
janela abraçada
no dia que nasce
O que vejo de repente?
duvido! aquilo é fato?
- uma velha no telhado
correndo atrás do gato?
A vizinha além do muro
espia de lá (alcoviteira)!
o pega-pega esquentado
da velha na cumeeira
Se a vizinha me contasse
eu diria: "ah isso é intriga!"
Mas eu vejo a velha e o gato
Quem irá ganhar a briga?
E rodopia a anciã
e funga, e resmunga, e vai
até que enrosca a perna
balança, equilibra e cai
Então a alegria atoa
gargalha num riso só
tudo brinca no quintal:
- o muro, a casa, o pó!...
Há peças no cotidiano
teatro sem texto ensaiado
equilibristas de circo
no palco de um telhado!
Otail Santos de Oliveira - Pouso Alegre (MG) - 06 de março de 1979.
Desencontro
Quando eu chorei,
sorrindo para você...
você me observava
curiosa...
até tentei
sorrir, consegui
chorando,
e me amava...!
Através das lágrimas
correndo tortas
pelo rosto rubro,
envergonhei,
mas,
pelos cantos das portas,
encondo-me, me encubro...
procura-me aflita...
não me acha,
no entanto
a vejo. Embora
meu coração grite,
minha boca cala,
portanto
você não me ouve,
e chora!
Otail Santos de Oliveira - Poços de Caldas (MG) - 22 de setembro de 1978.
Noite
O que foi que você disse?
o que foi que você trouxe?
com esse manto negro,
com essa bola prateada,
como se nunca fosse
começo da madrugada!
O que há com você?
as suas contas brilhantes
tão alegres se mostrando
por essa escuridão fingida,
pois suas luzes ofuscantes
incendeiam a vida.
Por que já vai?
queria sempre tê-la...
talvez plantá-la
no meu jardim.
Nas flores iria vê-la
e colhê-la para mim!
Mas você morre,
e morre todo dia
deixando-me sozinho.
Até que entre a saudade
você renasce fria,
como uma grande verdade.
Óh Noite, por favor...!
quando eu morrer,
quero que seja com você...
Num silêncio profundo,
evitando aborrecer
o resto do mundo!
Otail Santos de Oliveira - Pouso Alegre (MG) - 09 de setembro de 1978.
Ondas
Os cabelos do meu amor
são como as águas do mar!
onde flutua meu coração,
numa prancha a acariciar.
E como são macios seus cabelos...
e como são calmas suas águas!
Os cabelos do meu amor
são como as águas do mar!
E neles me perco pescando amor,
nelas me afogo a beijar!
Os cabelos do meu amor
são como as águas do mar!
E quando esvoaçados ao vento,
como ondas altas e belas:
- eu embarco o seu amor
e o meu, num barco à velas...
Os cabelos do meu amor
são como as águas do mar!
Otail Santos de Oliveira - Pouso Alegre (MG) - 28 de março de 1976.
Noites de minha meninice
Já chegaram gnomo e assombração
em silêncio para que não os ouvisse;
também as fadas, pois elas virão
Visitar meu sonho de meninice.
Na minha vida um grande mar
se quebra acariciando o recife,
como uma sereia sobre ele a cantar
nas noites de minha meninice...
Os palhaços gaiatos nos picadeiros
brincavam no céu para que eu risse.
Eram eles os astros verdadeiros
das belas noites de minha meninice.
Como era lindo ver a alegria
sonhando no jardim da fada "Nice";
Aquelas flores cheirando à poesia
Enfeitavam as noites de minha meninice.
Mas o tempo passou... passou e correu...
e no seu passar ele me disse:
Para dizer adeus ao sonho meu,
às belas noites de minha meninice.
Otail Santos de Oliveira - Pouso Alegre (MG) - 15 de maio de 1975.
Belo
Belo é ver o próprio sonho
navegando pela noite escura.
Ascendendo as estrelas nos escombros
de mais um dia de ternura!
Belo é matar de vez o tempo,
gritando também a verdade
de ver que o sol e o vento,
mataram também a maldade!
Belo é ver que as crianças
agora brincam novamente,
com as rédeas da esperança
de um mundo demente!
Belo é ver que o mundo,
abriu novamente a porta do amor;
plantou algo já fecundo,
fez do ódio uma flor!
Otail Santos de Oliveira - Pouso Alegre (MG) - 07 de março de 1975.
quinta-feira, 28 de janeiro de 2010
Amanhecer
Quem sabe se a sombra
escondida na noite,
dentro da sua misteriosa
omissão negra,
guarda serena, um destino
de estrela entre cachos de luar.
E dele, certamente,
a madrugada fará germinar
a aurora,
moldando o dia
na explosão do sol.
Otail Santos de Oliveira - Jacareí (SP) - 18 de março de 1998.
Solidão
Dentre tantas vozes,
quando rostos gesticulavam
a presença da multidão,
uma voz cala...!
E começa a sussurrar
nas entrelinhas do caos.
Todos os olhos se olham,
encontram-se tímidos
entre as palavras.
O coração vagueia no peito
e a mão sua em contraponto.
Distante, o pensar perde-se
no vazio dos tons...
Escuta-se o silêncio,
quando de repente,
um lápis cai!
Otail Santos de Oliveira - São José dos Campos (SP) - 13 de janeiro de 1998.
Da insegurança
Não saber da exatidão
e não tomar conhecimento
de um tudo, mais ou menos
quase tudo entre o estar certo,
e o poder errar pelo menos
um bocadinho.
O tempo vai esvaindo-se
como a vida no corpo inerte...
A mente perdura ao relógio!
Mas o que será do espaço
além do toque das mãos?
- Medo!
Detalhe em branco e preto
da consumação do fato!
Esteriótipo de impotência
contra si mesmo.
E o combate final:
- nem tragédia nem comédia...!
Apenas um suspiro sôfrego,
e uma sensação
de ter-se perdido o mundo
e ganho a eternidade!
Otail Santos de Oliveira - São José dos Campos (SP) - 12 de janeiro de 1998.
Natal V
Quando a noite brotar
da amplidão,
e o sorrido de estrelas
povoar todo o céu;
quando a brisa invadir
o horizonte,
e fizer dançar os arbustos
perfumando as horas;
quando o menino nascer,
e dele a esperança...
o nosso futuro,
sim, o nosso destino
de amor
estará consumado!
Otail Santos de Oliveira - Jacareí (SP) - 15 de dezembro de 1997.
Natal IV
Sobre o peso da idade,
entre as gerações,
quis o Criador
trazer para si
sua criação.
Para tal missão,
mandou um Filho muito amado!
A Natureza, em sua sapiência,
saudou a Divina Criança
com sinais de alegria;
Enquanto nós, as criaturas,
ainda hoje,
Procuramo-nos perdidos,
dentro de nossa
descrença!
Otail Santos de Oliveira - Jacareí (SP) - 14 de dezembro de 1997.
Amando
Ela olha alheia
o grande vazio do seu mistério...
tem aquele sorriso estampado,
um sorriso etério,
que lhe avermelha as faces...
Entre ela e o infinito
um milhão de sonhos,
beijos, carinhos...
Ela olha para um mundo
só dela...
E entre nuvens
flutua,
até tornar-se uma delas...!
Otail Santos de Oliveira - Jacareí - (SP) - 02 de outubro de 1997.
Natimorto
Tenho, a certa distância,
pela brisa um certo frescor,
algo como um arquétipo de musa,
morando em minha alma,
como um anjo a acalentar
minhas tardes de céu azul...
Tua nudez povoa
minhas alucinações.
Corro por tuas vestes,
tirando delas, teu perfume...
antes de nós porém,
antes dos nossos olhos
intercruzados,
uma eternidade de amores lógicos;
paixões seculares romperam
léguas de páginas,
vislumbrando praças...
Quero roubar teu pensamento,
viver dentro dele,
fazer parte dos teus sonhos.
Estar presente nos teus segredos
mais profundos,
em cujo ruborizar de tuas faces,
denucias a existência...
E voar...!
Somente o firmamento,
a infinita amplidão,
poderá explicar
meus olhos perdidos
nos teus...
Certamente não te apercebes,
no entanto,
guardo na lembrança
um sorriso...
nada sério!
Talvez o único indício
de que tens por mim
algum carinho.
Mesmo assim,
ele ficará comigo,
como uma foto,
um poema...
eterna lembrança
do que poderia
ser o nosso amor.
Otail Santos de Oliveira - Jacareí (SP) - 24 de junho de 1997.
Mais um aniversário
Outra vez me busco no espelho...
outra vez deparo-me comigo mesmo
na antessala do meu tempo.
Tento ter saudades do que fui,
e acabo por me entregar
ao destino...
Os pesadelos de outras épocas,
tenho certeza,
passaram a ser meus novos sonhos...
O medo mudou-se para o espelho,
deixando entre os cabelos
sinais de um novo tempo...
meu tempo de ser feliz!
Otail Santos de Oliveira - Jacareí (SP) - 21 de maio de 1997.
Elegia... para Luciana Rondinelli
Ela chegou como um amargo na boca,
uma secura exasperada nos olhos,
um grito triste em desespero dentro da alma.
E quem partiu no seu abraço,
o fez com um sorriso bobo nos lábios.
Como se todas as pendências,
todas as responsabilidades
perante aos que deixou,
já estivessem resolvidas.
Ela chegou como um beijo frio do inverno,
e arrancou dos rostos atônitos
lágrimas eternas,
cultivadas apenas para lavar a sua passagem.
E se foi como um por do sol
enbrenhando-se noite a dentro.
Os que ficaram, perdidos ainda,
buscam consolo nas estrelas,
temendo nunca mais poderem
livrar-se desse vazio deixado,
dessa angústia chamada saudade!
Otail Santos de Oliveira - Pouso Alegre (MG) - 07 de julho de 1996.
Goleiro
O artilheiro corre em direção à bola,
desferindo um chute seco...
O couro, num efeito mágico,
viaja numa velocidade absurda.
Entre os segundos que separam
o pé do artilheiro e a rede,
o povo nas arquibancadas
e via satélite,
segura a respiração como que
numa negativa em acreditar...
Ele, o goleiro, como um pássaro,
voa majestoso
em direção ao infinito,
atravessando as traves.
Com um toque sutil,
de mãos trocadas,
a "gorduchinha" sobe...
A fiel respira,
é escanteio!
Otail Santos de Oliveira - Jacareí (SP) - 15 de maio de 1996.
quinta-feira, 7 de janeiro de 2010
Epitáfio
(por Simone...)
Um anjo a colheu
na plenitude de seus dias,
deixando um grande vazio
nos corações dos que a amavam.
Mas o Senhor é Pai!
E há de confortá-los
dando-lhes a esperança
de que ela, hoje,
entre as legiões,
exibe suas belas asas
em exuberantes vôos
pelas estrelas...!
Otail Santos de Oliveira - Pouso Alegre (MG) - 09 de Fevereiro de 1995.
Natal III
Menino Deus com mãos de estrelas
meus olhos choram ao vê-las
num futuro tão próximo
sangrarem por um sofrimento
que romperá os séculos
e avançará no tempo
levando às gerações
a esperança
de que Você linda criança
faça brotar com seu sorriso
as flores do novo paraíso...
Otail Santos de Oliveira - Pouso Alegre (MG) - 15 de Dezembro de 1994.
Onde estão os teus poetas?
Onde estão os teus poetas ó Mandú??
Legaram-te o esquecimento?
Aquele fogo adolescente,
aquelas homenagens poéticas
dos tempos da juventude
hoje frequentam gavetas!
Tu não estás velho como eles imaginam
eles sim, estão envelhecendo.
Só que eles o abandonaram,
tornaram-se doutores
e foram pelas suas vidas...
Olho-te desta ponte
e não consigo conter o rancor
de ver-te náufrago nas próprias águas!
... saber dos teus segredos,
hoje mortos...!
Onde estão os teus profetas ó Mandú???
forjaram para ti um grande futuro,
e hoje, nem te enxergam.
Passam por cima de teu leito
com seus carros importados,
de janelas fechadas para a tua agonia.
Pouso Alegre cresceu,
já não é mais a tua princezinha...
Onde estão os teus filhos ó Mandú???
Quero apenas olhar-te meu pobre amigo.
Ver-te passar na tua longa caminhada,
pois um rio não se mede em quilômetros,
mas sim, pelos séculos das almas que o habitam!
Levas meu caro, diluida em tuas águas
toda a ingratidão de uma gente
a quem destes a vida.
Minha tristeza vai além das tuas ondas,
onde não consigo mais espelhar minha face...
minha tristeza vai dentro da tua alma,
onde hoje, residem tristes tuas lendas.
Vou seguí-lo, calado, até onde
tu te deixas ser engolido pelo Sapucaí.
Lá termina tua morte
e começa a dele!
Onde estão os teus poetas ó Mandú???
Otail Santos de Oliveira - Pouso Alegre (MG) - 19 de Agosto de 1994.
Aniversário
Busco minha eternidade
absolvendo os minutos que passam
dentro de cada hora,
atrás de cada dia.
Conto todos os momentos,
e entrego o mundo
ao futuro.
Lá morarei, e,
certamente, descansarei
meu pesado sono
em seu travesseiro
de nuvens!
Otail Santos de Oliveira - Pouso Alegre (MG) - 11 de Agosto de 1994.
quarta-feira, 6 de janeiro de 2010
Paixão
Sobre a mesa no canto da sala
repousa muda a caneta.
A alma do poeta desencontra-se
com seu destino de lágrimas.
E de repente, nem mesmo a lembrança,
ou sequer um lampeja
daquele amor estampado na foto,
no canto escuro da estante.
A poesia jaz num fundo velho de gaveta...
E os sonhos, ah os sonhos,
há tanto tornaram-se pesadelos!
Mesmo assim, algo teima em envolver
os olhos num misto de ternura e saudade.
Mais que uma certeza de morte,
essa paixão torna-se destino.
Otail Santos de Oliveira - Pouso Alegre (MG) - 10 de Janeiro de 1994.
Natal II
Para cada deus surgido,
ergue-se das trevas
um exército de cães.
Sobre todos move-se
lenta e ordeira
a terra...
O caminho dos deuses
desdobra-se por sobre
as tímidas crianças...
Os sinais se multiplicam
nos céus, enquanto
estrelas suspiram
acima do desespero das raças.
Mas, sobretudo,
abre-se a latitude indômita,
como boca peçonhenta,
engolindo os filhos
do medo, roubando-lhes
segredos e transformando
suas orações em suplícios,
para deleitar-se nos poucos
sonhos, às belas lembranças
de uma inocência ida...
Otail Santos de Oliveira - Pouso Alegre (MG) - 23 de Dezembro de 1993.
Natal
Um Deus surge das cinzas
adormecidas de uma civilização.
Reclusa no tempo,
recebe-o com descaso,
irreverente e violenta.
E Ele transcende o espaço
coberto de simplicidade.
Como criança respira
a pureza do ar,
impregnando-se de bondade...
da sabedoria, certamente,
brotará o Homem, e,
do Homem a Divindade!
Em seu vagido há um lampejo
de felicidade,
embora o seu destino
seja morte,
para ter e dar a vida!
Otail Santos de Oliveira - Pouso Alegre (MG) - 22 de Dezembro de 1993.
domingo, 3 de janeiro de 2010
Independência??? ... ou morte!
A liberdade tornou-se promessa,
embora a mancha negra
tomasse conta do céu azul...
Tarde de sol,
riacho cristalino...
um grito ecoou século a dentro,
mas o silêncio da fome
ainda povoa a grande massa!
Nem mesmo o descaso do povo,
torna realidade o carnaval!
Os generais da história,
com seus cavalos,
tangeram a humilde gente...
Os trancafiados da pobreza
amontoam-se nas palafitas!
Os negros, ainda escravos,
despencam dos morros.
Omissa, a Soberania Nacional
destrói os grãos podres
de uma tal safra abundante,
para que as bocas desdentadas
não possam cobrir
seus estômagos famintos.
Por todos os lados,
homens bonitos em ternos de linho
usam suas palavras,
para convencer os pequeninos,
a dar-lhes o pouco que resta
de suas miseráveis condições.
Não ficando satisfeitos,
sugam-lhes a vida,
aprisionando suas almas!
E a liberdade Príncipe?!?
Onde está a liberdade
ecoada pelo seu grito???
Terá ela ido ter com as estrelas... ?
Oh meu Príncipe,
retoma o seu cavalo e a sua espada
tira do peito aquela frase
contida na garganta dessa gente sofrida...
Dê-nos a paz!
Otail Santos de Oliveira - Pouso Alegre (MG) - 01 de Setembro de 1993.
Bailarino
Estranhamente
busco formas
e elas se consomem
na fumaça
rodopio
arrepio
desconfio
desfio
minhas mágoas
nas pontas dos pés
assintomático
passo da amplitude
à estático
semideus de aço
em estrelas distantes
perdidas no espaço...
tenho movido meus ombros
e assanhado minhas pernas
saltando escombros
desprezando espermas
ingerindo drogas
traficando sonhos
sequestrando medos
desfolhando
deflorando inocências... (!)
quero roubar-te o tempo...
introduzo-me em teu pensamento
vagando suave no teu íntimo
deslocando-me em tuas entranhas
como um parasita
tresloucado
obcedado por teu êxtase
de súbito
entro em convulsão
e a música
se instala em meus ouvidos...
atravesso as notas
redijo letras
descrevo tuas mãos
sobre as minhas
numa dilaceração espontânea
do meu âmago
para a tua existência...
tu te deslocas pelo vento
enquanto me acabo na demência!
negando-me apelo
até desfazer como gelo
da tua descrença...
Otail Santos de Oliveira - Pouso Alegre (MG) - 05 de Julho de 1993.
O Trem
Falar sobre saudade em Pouso Alegre é sentar no "IBC" e ficar esperando o trem passar. Os trilhos desapareceram no tempo, ou foram engolidos pelo asfalto e a máquina partiu em definitivo para o interior de São Paulo. Por isso, a saudade é latente e andando pelo museu da cidade deparei-me com um passado que me tocou fundo no coração e encheu de lágrimas meus olhos.
O "IBC" perdeu-se pelos planos de desgovernos, já fabricou sapatos, e agora distribui alimentos para a cidade e região.
No museu só falta o trem!
Lá estão o telefone ainda de manivela, o sino da estação, o perfurador de passagens, o bagageiro, a placa da máquina e as fotografias; pois mesmo que o cérebro quisesse, somente as fotografias para trazerem de volta aquela falta de pressa da infância de nossa cidade.
O trem que ia levava a nossa produção agropecuária. Éramos uma cidade rural e a nossa economia baseava-se na terra quase exclusivamente. Mas o trem que vinha trazia da cidade grande notícias do progresso: - as grandes indústrias, o olhar assustado do caboclo que se perdeu entre os arranha-céus da metrópole.
Ah! Quanto a mente regrediu até chegar naquele tempo em que só o trem corria. As cercas guardavam as casas, seus medos e suas crenças. E o trem de ferro passava levando os suspiros das moças e os sonhos dos rapazes. Mas a criançada divertia-se nos trilhos, equilibrando-se nas linhas.
Na velha estação havia alvoroço pela chegada do trem. Era a moça esperando o noivo; a mãe esperando o filho; a banda esperando o político; o coroinha esperando o bispo; os soldados esperando o general.
Sempre que chegava, ele trazia consigo algo a somar ao progresso dessa terra, e quando partia levava em seus vagões um pedaço querido de nossos corações.
Até que um dia ele se foi para nunca mais voltar!
A cidade cresceu e quase todos se esqueceram do seu passar barulhento. O asfalto deitou-se sobre as linhas, sepultando para sempre o ranger de suas rodas. A estação emudeceu, e as pessoas, hoje, é que passam apressadas no vai e vem do comércio.
Vejo meu filho deliciar-se com as relíquias encontradas no museu. E pensar que cheguei a vê-las funcionando! Com certeza o levarei para conhecer a "Ponte de Ferro", uma grande peça desse glorioso passado, exposta ao ar livre. Sem me esquecer da estação da Imbuia, os dois pontos que limitavam o meu mundo de infância.
Seu eu quiser falar sobre saudade em Pouso Alegre...
Hoje, o trem que passa aqui é outro. Ele vem da eternidade e vai para o além... Leva em seus vagões, todos os dias, aqueles que já cumpriram a sua missão. Não é o trem das nossas lembranças. Mas é certamente, o do nosso destino.
Otail Santos de Oliveira - Pouso Alegre (MG) - 27 de Setembro de 1993.
2º Lugar do Literatura no FESPROVE 2009.
sábado, 2 de janeiro de 2010
Anjos do Apocalipse (uma tríade em dor maior)
I
Na noite fria de trevas,
uma brisa estúpida perambula
com mãos de medo.
Ao longo das calçadas dormem
inocentes, os anjos do apocalipse!
O silêncio espreita as esquinas,
roubando-lhes formas fantasmagóricas
e soltando-as pelas ruas.
Quem poderá me falar sobre os sonhos
dos que se perderam em tão sôfregos sonhos???
Translúcida a lua esbarra nas nuvens,
e as estrelas estremecem no céu em alaridos...
Os filhos da pátria repousam
no "berço esplêndido" das sarjetas!
Até que a lei despenca dos carros,
em rajadas de fogo...
e aquele que deveria proteger,
torna-se algoz,
cuspindo morte
e espalhando pelas ruas
o sangue de um futuro,
o futuro de um "planeta"
chamado Brasil!
II
Elas, como dói ver
aquelas meninas mortas!
suas vidas esvaem-se em camas,
nos sujos quartos das podres cidades.
Roubam-lhes a castidade e a alma,
dragando-lhes os sonhos mais infantis.
Os dólares compram seus corpos
envelhecendo seus olhos!
Que oportunidades poderiam ter
essas pequenas "marias"
diante da brutalidade desses homens???
Ventres que deveriam abrigar novos seres,
guardam hoje uma grande vergonha,
porque em suas entranhas
penetram apenas os prazeres profanos
dos donos do poder.
Há sangue escorrendo pelos guetos,
onde estupram-nas!
Seus belos corpos estampam-se
em revistas e jornais.
Fotos coloridas levam-nas a fama,
enquanto o desejo animal
destrói-lhes o destino,
espalhando pelos prostíbulos
os sonhos de um futuro,
o futuro de um "planeta"
chamado Brasil!
III
A morte ronda aqueles campos,
que de santo, nada tem.
O filhos da fome
choram a dor do destino
mostrando suas bocas nuas!
Sustentam-se nas finas pernas,
e esperam famintos
pelo desabar da chuva.
Que alimento, meu Deus,
poderiam os homens dessa terra
enviar, para matar-lhes a angústia???
Mais que a barriga,
a alma rasteja
na podridão da miséria.
"Em teu seio, ó liberdade"
queriam essas crianças
degustarem o leite
roubado pelos soberbos,
que nos palácios ruminam
com indiferente felicidade,
"o pão deles de cada dia"!
E via satélite,
assistem consternados,
com os olhos inundados em lágrimas,
a voracidade da seca
rasgando o sertão,
e espalhando pela caatinga
as covas de um futuro,
o futuro de um "planeta"
chamado Brasil!
Otail Santos de Oliveira - Pouso Alegre (MG) - 1993/1994
1º Lugar de Literatura no FESPROVE 2009
1º Lugar de Interpretação no FESPROVE 2009 (Intérprete: Lúcio Marques)
sexta-feira, 1 de janeiro de 2010
Sarajevo
Os anjos de fogo
atiram suas flechas
incandescentes.
A cortina explode
espalhando corpos...
Nuas, as crianças
choram sem medo,
apenas o pavor
povoa a face
corada e sôfrega...
somente a coragem
sobrevive ao bombardeio.
As sirenes rebelam
na noite fria,
e os gritos atropelam-se
todos tornam-se fugitivos
em revelia...
poucos sobrevivem
à funesta fantasia.
A miude, transtornados,
rogam a Deus pela morte
e, agradecem à vida,
como um pequeno fogo que jaz
e que romperá,
um dia quem sabe,
sobre os túmulos da paz!
Otail Santos de Oliveira - Pouso Alegre (MG) - 18 de Julho de 1994.
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