domingo, 17 de outubro de 2010

Meus Vinte Anos

O bar, a gente toda,
A esquina, o mundo.
(O mundo na esquina da vida!)
A desculpa sempre discreta.
O sonho, o eterno caminho!
O andar cansado do rio
Buscando uma cachoeira de paz...
O vento descalço voa
Segurando na calda penteada do tempo!
O preço da fome...
A fome de alimentos...
A fome de palavras...
O preço na tabela da vida,
A vida estampada na parede do supermercado!
..."e o Espírito de Deus ressurgirá dos mortos!"
E aí os preços serão reajustados...!
E o bar de luzes eternais
Apagou-se no vazio...
É a minha hora do julgamento...
No calendário pornográfico
É o trigésimo dia de julho,
Octagésimo primeiro ano do século vinte...
Tudo não passou de fantasia!
A minha energia está se recompondo.
O meu fracasso foi a minha maior vitória;
E a derrota, uma desculpa esfarrapada
Para continuar vivendo.
Apesar de tudo, o caminho não foi aquilo...
Intransponível!
Mas foi longo e árduo.
Bem, como toda fita de Hollywood
O mocinho, apesar de ferido e cansado, chegou...!
O bar, a gente toda.
A luz da minha estrela!
O andar do rio.
A falta de palavras...
Uma erupção de sentimentos!
O mundo na esquina da vida!
Eu e meu ego, meu orgulho indestrutível!
A carne que cobre meus ossos,
A matéria que reveste minha alma...
Minha alma de passarinho
Voando livre na ternura da brisa...
Voando, voando em busca do meu tempo...!

Otail Santos de Oliveira - Pouso Alegre (MG), 30 de julho de 1981.

Maresia

Vou me perder
além das montanhas,
além das montanhas
no alto mar!
Onde mora "Serene"
a bela princesa,
"Serene" das profundezas...
Princesa do Mar!

Vou além das nuvens,
por de trás do céu,
por de trás do céu
no alto mar!
Ver o meu amor sereia,
cujos os olhos são o verde das águas,
e os cabelos a areia...
São as macias areias do mar!

Se o meu amor não encontrar,
vou chorar tempestades,
vou chorar tempestades
no alto mar!
Vou afundar os barcos dos pescadores,
os malditos pescadores
que deram a ela as dores,
dores desconhecidas no mar!

E então vou inundar
toda a terra,
toda a terra
além do mar!
Vou matar minhas mágoas,
vou encontrar "Serene"
morto nas águas,
nas águas profundas do mar!

Otail Santos de Oliveira - Santos (SP), 03 de janeiro de 1981.

Cotidiano Urbano

Sopa na mesa!
A angústia vem para a sobremesa...
Nos olhos um sorriso amarelo,
Na boca os dentes da fome.
Tristeza soa como um nome
Sem o porte físico belo...!

Lençol de saco na cama!
O cansaço inaugura o drama...
Nas mãos a sorte do calo ardente,
Nos pés a recusa de andarilhos,
Na mente o ruído dos trilhos...
E o corpo transpira a aguardente.

O sol chega como uma morte!
O galo anuncia a má sorte...
O caminho é longo, a ansiedade é pouca...
O preço da passagem é um afano,
Mas lá vem o suburbano
Na sua metódica corrida louca!

É podre o dinheiro sofrido!
Mais, é por ele ter morrido!
Mas ele vai, briga e morre...
E toma o trem de volta para casa.
Antes no bar, a ilusão cria asa
E o coração cansado toma seu porre!

Sopa na mesa!
O desespero vem para a sobremesa...
Junto com a fome a desgraça...
E nada se faz quando é verdade,
pois nada se tem só de bondade,
que justifique essa vida sem graça!

Otail Santos de Oliveira - Pouso Alegre (MG), 20 de setembro de 1980.