sábado, 28 de agosto de 2010

Desabafo

Aqui, diante do meu túmulo,
de frente para a lápide gélida,
as mãos no peito, olhando o espaço...
Onde vais minha vida???
Por que tão longe aprumas entre as nuvens???
Sinto não poder mais entrar em teus olhos,
e quando as estrelas voltarem do oriente,
talvez eu já não esteja entre teus dedos.
Tenho agora o dever, de súbito,
sem temer, de me dar a tua majestade.
Pouco te importas se rasgo meu peito,
se dilacero minhas víceras...
Tenho mesmo que entregar aos abutres,
meu coração, para saciar-lhes a fome!
E tu, perfume incandescente,
passeias livre por minhas alucinações...
Enquanto rastejo na lama desses dias fétidos,
tu e tua corte festejam pelo caminho das flores...
Não há mais o que buscar dentro da nossa paixão:
- o lugar comum entre nós
são "o vazio" de nossas almas,
perdidas além dos nossos pesadelos!
Incógnito dentro da noite
atropelo todas as leis:
- Imagino-me Napoleão,
não em triunfo,
mas derrotado!!!
(Waterloo no século XX)...
Muito mais que a morte,
esquecido eternamente...
Aqui, agora, diante do meu túmulo,
nem mesmo a gélida lápide guarda:
- um nome obscurecido pelos musgos,
- um número perdido entre milhares...!

Otail Santos de Oliveira - Pouso Alegre (MG), 27 de setembro de 1990.

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