domingo, 6 de dezembro de 2009

Era assim quando chorava


Era assim quando chorava!
Nunca, ninguém chorou assim...
a mão buscava o rosto,
o rosto molhado pelas lágrimas,
as lágrimas de quando chorava!
Era um não poder que não podia,
correr atrás do sol no dia.
Não se chorava por ser,
mas chorar, era pretender...
Foi um tempo quando as horas
perfumadas pelo vento que soprava
roubava medos enquanto amava...
Era assim quando chorava,
na mão da vida que se matava
na mão do sonho que não sonhava.
Mudou o choro, o motivo... não!
Nem todo sofrimento é o mesmo,
mas eles nascem da mesma solidão...
Era assim quando chorava,
e assim será quando se vier a sorrir!


Otail Santos de Oliveira - Pouso Alegre (MG), 12 de março de 1983

domingo, 8 de novembro de 2009

Humanos


Há certos instantes...
contratempos do tempo
nos minutos de relógios solares...
em que a visão turva diante
de lembranças espontâneas...
No topo do monte,
lições de silêncio...
Orações perdidas no passado
retornando ao futuro!
Espíritos ancestrais
ocupam ainda
o invólucro espesso...
Alguns em semitons
volitam nos esplendores da luz...
outros, encarcerados,
ruminam lembranças
atados a ignominiosas tragédias.
No círculo vicioso da vida,
a consumação do sonho
é apenas vaga imposição
de extremos!
Buscamos a respiração das estrelas,
entre o fulgor de suas luzes...
Abeiramos egoístas, almas infelizes,
transformando-as em escadas desditosas.
Enlaçamos consciências perdidas,
em tramas egocêntrica,
fecundando para o destino
desenlaces dolorosos e trágicos!
Porém, uma brisa sideral
espalha-se em radiações de fulgurantes êxtases...
São espíritos complacentes
laçando-nos em suas cordas
de energia renovadora;
resgatando-nos em nossos
poços de mediocridades...
Içando-nos ao limiar da Sabedoria Divina...
Onde, ao escutarmos
o coração do Universo,
plasmamos em nossa eternidade
as impressões da Infinita Misericórdia,
transmutando-nos à regeneração!


Otail Santos de Oliveira - Pouso Alegre - 05 de Maio de 2001

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Por de trás do muro


Por de trás do muro correm lágrimas
lágrimas de dor, lágrimas de amor
por de trás do muro ouve-se gritos
gritos de pavor, gritos de horror
e de repente o silêncio
somente o murmúrio das árvores
passeia tranquilo pela noite
por de trás do muro...

Por de trás do muro correm lágrimas
lágrimas de dor, lágrimas de amor
por de trás do muro ouve-se gritos
gritos de pavor, gritos de horror
e de repente o olvido
somente a dormência das pedras
passeia tranquila pela noite
por de trás do muro...


Por de trás do muro correm olhares
olhares malditos, olhares inauditos
por de trás do muros ouve-se sonhos
sonhos aflitos, sonhos proscritos
e de repente o silêncio
somente a brancura da névoa
sobrevive tranquila pela noite
por de trás do muro...

Por de trás do muro correm olhares
olhares malditos, olhares inauditos
por de trás do muro ouve-se sonhos
sonhos aflitos, sonhos proscritos
e de repente o olvido
somente o perfume do tempo
sobrevive tranquilo pela noite
por de trás do muro...

Por de trás do muro correm sussurros
sussurros inconscientes, sussurros dormentes
por de trás do muro ouve-se poemas
poemas doentes, poemas dementes
e de repente...
há um medo de vida
perambulando atento pela noite
por de trás do muro...

Por de trás do muro correm sussurros
sussurros inconscientes, sussurros dormentes
por de trás do muro ouve-se poemas
poemas doentes, poemas dementes
e de repente...
há uma esperança de morte
perambulando atenta pela noite
por de trás do muro...


Otail Santos de Oliveira - Rio de Janeiro - 07 de Agosto de 1986.


domingo, 18 de outubro de 2009

Favela Nova República


A noite guarda o sol em seu bolso longo...
Além, no resto, um rastro ruborizado...
O silêncio invade a metrópole,
em seu retornar cansado...
Vácuo na distância... !!!!!!
o que era murmúrio
torna-se uma convulsão dilacerante...
o que era imprudência
será impunidade...
e o retorno
já é fuga!
... Silêncio... explosão ... Silêncio!!!!
Vozes procuram sufocados socorros;
desesperadas, pás vão atrás de mãos desamparadas...
Na vala comum, vidas lamentam,
mortes brotam do chão remexido.
A noite guarda o sol em seu bolso,
enquanto via satélite, o mundo assiste
quedado de horror, a tragédia...

Não chore Fernanda,
já é hora de dormir nas mãos dos anjos.



Otail Santos de Oliveira - Pouso Alegre (MG) - 25 de Outubro de 1988.

Prosa de Mineiro


"Oia, u mininu tá nadanu nu cochu!"
"Mais essi mininu sô!"
"Ocê num vê qui é água dus boi bebê?"
'Uai manhê, tô cum corpo cuberto de juçá, urtiga e aruera.'
"Mais ocê divia de i nu reberão."
'Riberão tá friu manhê...'

... Há tempos que se perpetuam na lembrança,
são como águas frias perambulando assustadas nas corredeiras...
são eternas mas jamais tornarão a nascente!!!
Existem tempos de prisões...
O próprio tempo nos aprisiona:
- não poder ter de volta aquele momento,
- não estar novamente bebendo aquele beijo...
quanto se passou do riacho, e eu não estava lá!
Quantas flores já cresceram nas encostas,
sem que eu pudesse me embriagar em seus perfumes...
Talvez eu esteja ficando velho...!
Olho o mar da minha janela, confundo-o com as dormideiras
na beira da trilha, na casa velha do pequeno sítio do meu avô.
Olho o mar da minha janela...
... tem menino preto vendendo balão,
outro, correndo do camburão...
os moleques da "Comendador", corriam sim, mas em confusão:
- era o pique de quarterão!
Olho o céu da minha janela e vejo um avião...
divagando penso...
Onde está o gavião???
seu voo razante buscando a presa, pobre, sem apelação...!
Tudo em volta é tão magestoso,
edifícios, carros, sonhos, sonhos... sonhos...!
Lembro o meu avô sentado a porta da casa, a velha cadeira,
o "paeiro" fumegando, espantando as moscas.
O sabiá reluzindo ao pôr do sol, o cheiro da relva,
o gado voltando dos pastos...
... e a menina sardenta de pernas finas
dependurada no alpendre com tranças avermelhadas...
Há tempos em que tudo parece tão grande,
depois,
tudo tão vago...
até tornar-se nada,
talvez saudade...!
Olho o mar da minha janela e sonho:
- "Sai du coxu mininu qui us boi tá vino!"
- "êta mininu teimoso sô! "



Otail Santos de Oliveira - Rio de Janeiro (RJ) - 01 de Outubro de 1986.
2º Lugar de Literatura no FESPROVE 1993.

Balada da Morte do Cão



O cão está morto!

Quem matou o cão?

Foi o homem da espingarda grande?

Ou o motorista na contramão?????

Mas o cão está morto,

e quem se culpará por isso?

A velha lavando a roupa no quintal?

Ou o empregado escravo submisso???!

Não se importem com o cão,

era um animal dito irracional:

- matá-lo não foi um crime,

nem mesmo pode se dizer que é um mal...

Mas o cão está morto!

Mortinho ali feito um "cachorro".

Que latidos poderá o pobre ladrar?

Que anjos virão em seu socorro????

Pobre e solitário cão,

morto com um ser qualquer...

Quem matou o descuidado cão?

Quem lhe deu o desprazer de morrer?

Quem lhe deu o desprazer??

Quem lhe deu???

Quem????...!

O cão está morto!

Nada mais importa.

Nem as lágrimas da menina,

chorando atrás da porta...

Era a sua dona a pequenina,

e o criara desde nascido

pra vê-lo morrer, pobre vagabundo,

nas mãos de um destino atrevido.

O cão está morto!

Quem matou o cão?

Foi o homem na contramão

ou o motorista com a espingarda grande????

Há há há há há há há há há há...!!!

Ninguém irá rezar por sua alma,

coitada, queimará no inferno...

... (dos cães é claro!)

Quem matou o cão?

Quem matou??

Quem???

Diga-me Senhor do eterno!!!

Mas tarda o sol no horizonte,

e o pobre ali sozinho...

Como pude presenciar tão triste episódio

no meu festivo caminho?

De que vão adiantar minhas palavras

nesse desalmado mundo???

Palavras não vão fazer com que se comovam

as pessoas, por um simples vagabundo.

Não chore minha menina,

seu cão certamente está dormindo

nas mãos de algum anjo... (cão anjo é claro!).

O cão está morto!

Quem matou o cão?

Foi o homem da espingarda grande?

Ou o motorista na contramão????


Otail Santos de Oliveira - Pouso Alegre (MG) - 11 de Março de 1983.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Sobre nós


Sobre nós,
tudo em poucos instantes...
a luz do bar,
o sopro do silêncio
entre o alarido
das vozes...
Sobre nós,
em poucos minutos
toda uma eternidade
escrita por tortas palavras,
pensamentos proscritos
por sonhos distantes...
Sobre nós,
enquanto o vento
toca as nuvens
rumo a lua,
formando montros
de noites negras,
nos medos
escondidos em beijos...
Sobre nós,
dentro de nossas medidas,
além das nossas manias,
tudo pode esvair-se de repente...
menos essa distância
que de tão grande,
nos deixa tão perto,
como o dia e a noite
na hora do eclipse.

Otail Santos de Oliveira - Jacareí (SP) - 28 de Novembro de 1996.

Da timidez


Por sobre a mesa branca,
perdidas entre copos,
descuidadas entre
o cinzeiro e a garrafa,
minhas mãos
procuravam entender
por que as suas
atreviam-se a se
guardarem
entre as pernas.
Porém, depois
do beijo,
sua timidez
tomou-me de súbito,
deixando no ar
um sorriso bobo,
um tanto quanto
encabulado.

Otail Santos de Oliveira - Jacareí (SP) - 28 de Novembro de 1996.

Da brisa


Se em meio a poeira
dos meus anos
restar ainda
uma fagulha daquele amor
saibas adorada brisa
que tu serás
para sempre
o veículo
a me conduzir
pelos loucos
devaneios
deste mundo.

Otail Santos de Oliveira - Jacareí (SP) - 28 de Novembro de 1996.

Alguns devaneios


Brinco de esconder
meus silêncios.
E minha alma
fica a saborear
meus segredos.
Minha falta de palavras
cria dentro do meu coração,
um turbilhão de idéias.
Sinto seu corpo crispar-se
ao vento que passa.
E sua pele branca,
avermelhar-se com
a minha intromissão...
Tudo de nós cabe
dentro do nosso espaço.
E entre nós
brinco de esconder
meus silêncios,
segredos do amor que tenho,
verdades e mentiras
de nossas vidas.

Otail Santos de Oliveira - Jacareí (SP) - 02 de Novembro de 1996.

A Árvore


Só, por sobre a imensidão,
a solitária árvore vigia o vale.
A brisa pinta-se de verde
e as folhas voam
como pássaros em revoada!
Mesmo quando a chuva passa,
pelo vão das montanhas,
ela permanece inalterada,
sóbria, rumo a nossa eternidade.
Muitos já passaram por sua sombra,
e se foram para outros tempos...!
Alguns estão chegando agora,
e se vão, levando sua lembrança...
Mas há um futuro sobre o poente,
e a esperança de que outros virão,
e, certamente, num lampejo de olhar
poderão sentir um raio de sol
passar-lhe pelos galhos.

Otail Santos de Oliveira - Jacareí (SP) - 01 de Novembro de 1996.

Lampadário


Em vão debatem entre si as nuvens!
A tarde em tons avermelhados
busca ao vento insinuar-se
à noite, que em relances
já olha obtusa entre as montanhas...
Tenho medo dos fantasmas!
E eles não são apenas
aqueles que voam torturados...
Vejo-os agora dentro de mim.
Retoques de minha consciência
a me cobrar um passado esquecido,
porém, vivo e pronto a erupir
dos recônditos da alma.
Se me perdesse em devaneios,
talvez as recordações tornassem
apenas breves lampejos
das minhas psicoses.
Mas, pelo que sinto, já passaram
a dominar minha realidade...
De imediato, sopro pequenos insetos,
criaturas que à noite divertem-se no lampadário,
para esquecer meus temores,
e, de pronto,
confundir minha insônia!

Otail Santos de Oliveira - Pouso Alegre (MG) - 12 de Novembro de 1999.

domingo, 2 de agosto de 2009

Tchau!!!


Lágrimas nos olhos,
olvidar por um lápso de tempo
toda aquela alegria
dos muitos encontros todos os dias...
Deixar-se esquecer das pequenas rusgas,
mínimas discordâncias...
Saber que o futuro nos espera
na continuação do curso,
apenas e tão somente pelos caprichos do destino.
Lembrar sua voz amiga
dentre todas as vozes que os anos sobrepõem...
Entrar no íntimo das minhas memórias
e descortinar o desconforto de ter-lhe longe,
mesmo que por poucos dias... meses... anos... décadas...
Sabe amigo, vamos agora,
que o tempo favorece...
e lembrar-me-ei de você,
por certo, já que em meu coração
guardar-lhe-ei entre minhas melhores lembranças!

Otail Santos de Oliveira - Pouso Alegre (MG) - 10 de Dezembro de 1999.

O beijo


O beijo é efêmero,
a poesia eterna...
Teus lábios formam
o cântaro mais belo,
onde, certamente,
deitarei o vinho
de minh'alma.
Minha poesia
é efêmera...
teu beijo,
eterno!

Otail Santos de Oliveira - Pouso Alegre (MG) - 12 de Novembro de 1995.

Paisagem


Vento calmo na manhã cinzenta...
O olhar persegue, a certa distância,
uma sombra rastejante no muro branco.
Os sons se confundem aos ouvidos:
- não são pássaros nem cães...
- não são automóveis nem aviões!
Há um discreto show nos jardins,
algo como um balé de árvores semi-estáticas,
que acabam por ludibriar a própria natureza
valsando em leves passos...
Ao longe, um pardal leva no bico
o alimento para sua cria,
que na aflição da fome,
debate-se me devaneios...

Otail Santos de Oliveira - Pouso Alegre (MG) - 28 de Fevereiro de 1991.

Negro! Ô Negro?!


Negro!
Ô Negro?! Onde está o teu passado?
Perdeu-se pelas savanas da África,
Ou soçobrou com os escombros do colonialismo???
Teus olhos fogem na distância...
O que procuras?..?

Negreiros singraram os mares
Ferindo os filhos de Nagô...
Fazendo irromper das selvas,
O grito amargo de Xangô...

Está na hora Negro...
Teus antepassados amontoam-se
Pelas covas rasas desses sertões...
Trazem o cheiro da cana,
O suor do café,
Os calos do ouro,
E sempre:
- A aspereza da chibata
E a solidão das senzalas...

Há uma mancha rubra
Na amplidão verde-amarela...
Há um pesadelo de dor
Na concepção da aquarela...

Negro!
Ô Negro?! Este é o teu carnaval:
- Correr dos tiros da lei
- Roubar, matar e morrer;
Um direito só teu...
Qual é o teu caminho?
Para onde vais???

Da África trouxeste a música,
O som, os deuses e a dança...
Penetraste dentro dessa gente,
Embora para ti Negro, nem esperança!

O horizonte desta terra guarda
O suor e as lágrimas
De teus avós.
Mesmo depois de destruídos
Os porões das senzalas
E esquecidos os pelourinhos
Guardas,
Sem ter tomado parte,
Como praga hereditária,
As cicatrizes
E as feridas abertas
Do teu eterno martírio...

Negro!
Ô Negro?! Onde está o teu presente???
Pelos viadutos da iniqüidade,
Onde recebes pela vida os resquícios da morte???
Ou, pendurado pelos morros
Da “bela cidade”,
Esperando a vez de despencar
No precipício da grande chuva,
Como plebe descartável e abjeta
Dessa aí!!!... A sociedade!???
Muitos de nós brancos,
Ficaremos horrorizados
Com a tragédia, mas outros...?
Tua boca clama por piedade,
Mas o que tu precisas, Negro,
É de justiça!

Negro!
Ô Negro?! E o teu futuro?!
Aglomera-se na podridão da miséria...!?
Toma a lança dos antepassados,
Ressuscita teu Rei morto na batalha,
E parte para longe dessa mortalha!
E assim, com tua luta,
Conquistarás o respeito
Dessa tua, dessa nossa “Mãe gentil”,
Ressurgindo do quilombo teu “braço forte”,
Rompendo para sempre
Tua condição servil.
Verás da terra brotar o sonho,
De tornares, do sangue derramado,
O grande alicerce dessa pátria,
Esse gigante
Adormecido nos braços de Mãe Preta,
Que é a tua nação, Negro,
Brasil!

Otail Santos de Oliveira - Pouso Alegre (MG) - 20 de Novembro de 1994.


(3º Lugar de Literatura no FESPROVE 2007 e 2º Lugar no Concurso Zumbi dos Palmares de Literatura 2009).

sábado, 25 de julho de 2009

Ontem a noite


Ontem à noite estivemos juntos a olhar estrelas.
O mundo girou em sua órbita,
e nós passeamos pelas galáxias,
estáticas em nossos pensamentos.
Mesmo assim, amamos com profundidade
todos os minutos do relógio mágico da eternidade...
Viajamos, ah sim, perdemo-nos no infinito de nossas divagações,
e nos aprofundamos em nossas almas,
e delas trouxemos aqueles sonhos esquecidos...
Aqueles sonhos de tantas liberdades descobertas,
dos aquartelados das solidões...
de muitas vidas idas,
para além,
muito além da parada do dia da Pátria!
Ontem à noite estivemos juntos a relembrar velhos fatos,
rotas lembranças em antigas fotos.
Eu e você... "Paz e Amor!"
Fomos felizes aprisionados em ideais sufocados;
sentimo-nos realizados entre uma e outra canção "caetana";
pedimo-nos paixão,
e nos demos amor!
procuramos o êxtase,
encontramos ternura!
Ontem à noite estivemos juntos a subtrair medos,
para rememorarmos o futuro...!

Otail Santos de Oliveira - Pouso Alegre (MG) - 01 de Junho de 1993.

Amor


Ah!
e eu sei da tua existência
pelo cheiro do vento.
Mesmo assim,
não te encontro
voando pela brisa
nesses dias cálidos de verão.
Mas estás lá...
por isso,
acredito que existas!
mesmo que seja
um canto longínquo,
sei lá,
um pássaro azul,
uma cigarra fugaz...
É claro que a natureza
está longe,
e por todos os lados,
a cerca de concreto
abafa o som com
suas mãos de buzinas,
no entanto,
creio no teu aparecimento,
quando a noite
aponta negra
sobre o azul das montanhas...
feito estrelas cintilantes...
mesmo que chova muito,
e os relâmpagos
encham de medo
os meus aflitos olhos!

Otail Santos de Oliveira - Pouso Alegre (MG) - 24 de Janeiro de 1993.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

O Ócio


O canto esquerdo da sala observa-me passivo!
Impaciento-me com essa passividade,
tenho vontade de jogar-lhe algo!
Há vozes andando com passos de borracha no corredor.
Silêncio,
vozes,
passos de borracha...
O dia desloca-se segundo após segundo,
calma de quem tem toda a eternidade...
olho para o teto:
- duas lâmpadas fluorescentes trocam
suspiros e prótons e elétrons...
de repente...
não é mais apenas o canto esquerdo,
são o esquerdo, o direito,
o que está na frente
e o que vem atrás!
colocam-me no centro:
- interrogam o meu silêncio...
- cobram minha inadimplência...
- riem-se do meu desespero...!
- dissecam a fragilidade da minha quietude,
até arrancarem de mim um grito...
grito interior, mudo!


Otail Santos de Oliveira - Pouso Alegre (MG) - 18 de Maio de 1991.

Entrelinhas


Debruço-me sobre meus pensamentos vagos.
A solidão de meus olhos fechados
procura consciente algo azul...
Por forças incontidas,
suspiro!
Há algo de amor nas entrelinhas!
Tão certo quanto o céu estrelado
sobrevoo cada lembrança...
E os sonhos saltam a minha frente;
Ah, fantasmas de minh'alma errante,
até quando?
O céu em tons azuis convida-me...
Medito possibilidades!
Mas a solidão pouco sabe do perdão.
Congelado entre os semitons da paisagem,
respiro um ar que não é meu,
e rápto sensações nas nuvens.
Calço minhas botas,
tranco meu breve choro,
e saio a perseguir as rosas...

Otail Santos de Oliveira - Pouso Alegre (MG) - 19 de Setembro de 2001.

terça-feira, 21 de julho de 2009

Reflexão



Em breve, quando todos se forem,
e o silêncio povoar os quatro cantos,
repetindo entre o eco das vozes
todos os seus comportamentos:
- talvez eu descubra seus vícios,
mesquinharias e apelos rotos...
Então descortinarei todos os meus defeitos!
Todas as minhas amarguras
refletidas nas atitudes fantasmas
espalhadas pelo o que sobrou da festa.
Todas aquelas mulheres bonitas e fúteis...
Todos aqueles homens elegantes e vazios...
Nada mais eram que o meu oculto eu!
Minha intolerância diante
daquelas pessoas, nada mais foi que autopunição;
revelando-me insubordinado
entre uma conversa e outra...
Sempre medindo e pesando
as palavras ouvidas,
logrando meu pensamento
ruminando a impaciência
e arrotando a soberba...
Medo mórbido de deixar transparecer
a inquietude de minhas inconstâncias,
refregas de minha alma
aflita pela eternidade de guerras,
mortes e sangue!
Hoje, dentre todos os olhos,
sinto ainda a amargura dos inimigos tombados,
das mulheres humilhadas,
e das crianças impiedosamente
massacradas em nome de ideais torpes.
Logro meu medo, porém, a consciência
bate em calafrios no espírito combalido.
Busco estrelas que me consolem,
e elas são as mesmas que encobriram
vários de meus crimes... e me cobram!
Talvez, depois da verdade,
seja o tempo de me encontrar
frente a frente com as minhas mentiras...
(Torná-las públicas de mim mesmo!)
Reclamar da Misericórdia Divina
o meu direito de remissão.
E diante do acima exposto,
Pedir perdão!
Otail Santos de Oliveira - Pouso Alegre (MG) - Março de 2001.
2º Lugar de Interpretação no FESPROVE 2007 (Intérprete: Lúcio Marques)

Oração Cósmica


Pai nosso que estás nos céus, nas profundezas dos oceanos, nos altos das montanhas, nos berços verdes dos vales, nas correntezas dos rios, nas penumbras das cavernas, nas convulsões das cachoeiras, entre os ouros verdes das plantações e nos torvelinhos das grandes cidades; santificado seja o teu nome perante todas as estrelas, e todas as espécies animais e vegetais, e todos os homens, e todas as raças, de todos os credos, de todas as condições sociais; vem a nós o teu reino de amor, de segurança, de misericórdia, de perdão, de caridade, e, principalmente, de paz; seja feita a tua vontade que criou, que constrói e que mantém todo esse, e todos os universos em harmonia; assim na terra onde cursamos na escola redentora de nossas paixões, como no céu onde agraciados pelo fluído universal angariamos forças para o porvir; o pão nosso da carne, mantenedor do corpo material, e do espírito, que se constitui em ensinamentos tanto desta como de outras vidas; nos dá hoje como ontem e para sempre; perdoa as nossas dívidas para com a tua bondade, para conosco, para com o nosso próximo e para com toda a criação, assim como nós perdoamos todas as ofensas, as dívidas e os rancores; e não nos induzas em tentação, pois ainda perduramos nas trevas de nossa pequenez; mas livra-nos do mal e de toda sua geração, para que nós possamos em breve estarmos a serviço da tua seara.
Que assim seja!

Otail Santos de Oliveira - Pouso Alegre (MG) - Maio de 2000.

Devaneios


Quase não sei a que horas foi...

tantas horas se passaram...

sei lá...!!??

dias, quantos dias...!!??

anos...!!???

séculos!!???

O que me importa a dor???

o amor passou sssssssssssssssssssupersônico........................

e a vida despiu-se por esses dias...

resta o medo...

medo da vida...

medo da morte!

mas todos devemos partir!

Não existem impecílios

para quem vai sozinho,

de formas

que sozinho volte,

sem deixar saudades...

sem trazer lembranças...!



Otail Santos de Oliveira - Pouso Alegre (MG) - 20 de Agosto de 1988.

Flores

Vejo as flores pelo caminho
e rejubilo-me com elas.
São tão lindas e alegres
andando ao vento com seus vestidos coloridos
Se a chuva acolhe-as em seu manto turbulento,
elas, arredias, brincam pelas correntezas...
Olho para mim e penso:
- que sou eu mais que as flores do caminho????
Se sou, sou muito menos!!!
O vento me cala de frio
e a chuva, só de vê-la, me resfrio...
Fico olhando as flores da janela
e me contento em tê-las no olhar!
Quem sabe um dia,
possa eu ser uma delas!??

Otail Santos de Oliveira - Pouso Alegre (MG) - 12 de Janeiro de 1989.