quinta-feira, 4 de junho de 2015

Domingo

Que o dia, no seu pacato silêncio,
Mire-se no espelho da noite, e morra a efêmera poesia!
Em volta da mesa, os bichos trocam ideias sobre a política local...
Nem tudo é coma alcoólico,
E os mais eufóricos, estes, vão ao estádio assistir ao futebol!
Suas mágoas esvaem-se na peleja...
No muito da paciência, ouve-se um óóóóóóóóó... h!
É geral o nervosismo roendo unha...
Sem foguetório segue o jogo...
Muitas coisas acontecem nesse meio tempo.
E, perdendo tempo, outros seguem a ordem dos esquecidos...
... rumo a um fim de rua...
Na casa branca, um samba na vitrola.
As horas roubam o domingo dos dorminhocos,
Enquanto choram os subalternos pelas horas vindouras...
“sempre é algo que se tem para sempre!”
Impregnado no calendário imaginário do futuro...
E quanto à bomba?
Que bomba??
Bomba... só se for aquela de encher pneu de bicicleta...
(bomba de gasolina só serve para levar do bolso o dinheiro suado do mês)!
Na vila dos operários... em todas as fachadas... em todos os muros:
- “Rosa Eu Te Amo Você!”
É, os muros são meras declarações de amor...!
E o amor anda solto pelos muros...
E os muros prendem almas abarrotadas de amor!
Gooooooooooool! O rádio pula frenético no fundo da estante!
E dezenas de foguetes... centenas de foguetes... milhares de foguetes...
Ufa! Incontáveis estampidos rompem o prelúdio do luar...
“É, somente um gol para levantar o moral!”
... e em torno da mesa, os bichos continuam discutindo sobre o destino dos homens.
Sem cura, todos levantam e reverenciam a noite.
Não obstante a ilusão, dorme mais um descaso...
Não há lágrimas... só espera...
Eterna espera por chegar...

Pouso Alegre (MG), 17 de junho de 1982.

Otail Santos de Oliveira

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