E eu que olhava o
espaço das minhas mãos,
a gula desmedida
dos meus olhos na amplidão dos meus braços;
e eu que chorava o
medo na escuridão da noite,
alienada de mim, minh’alma
voava pela negritude infinita da madrugada;
e eu que fugia das
mentiras da minha boca,
viajando pelas
verdades das minhas pernas;
e eu que nunca pude
dizer não aos impulsos,
levei meu destino
ao encontro inevitável com o meu não!
Ah vida abstrata,
sombra ancestral traçando o futuro:
- Para onde irei
além destes poucos sonhos???
Ah juventude
escorrida dentre os dedos:
- Leva a saudade dos
meus dias azuis...
- Devolva a
esperança a esses anos que estão por vir...
E eu que vaguei
pelas margens do rio, rolando pela correnteza amarga;
o grito da morte, a
angustia dos que ficaram pelos sumidouros...
e eu que abri as
portas do meu peito aos amigos necessitados,
ladrões
sorrateiros, traidores da minha inocência;
e eu que engoli os
temperos desses dias tempestuosos,
comendo migalhas e
restos dos soberbos bondosos;
e eu que acreditei
na felicidade de muitos, e,
aos poucos, nem uma
fagulha do sorriso nas bocas da fome!
Ah vida escondida,
histórias de folhetim, roubando o espaço:
- Por que devo ir
somente até estes poucos sonhos????
Ah juventude
apodrecida nos galhos:
- Leva esta
existência perdida pelos passos...
- Devolva a
plenitude do amor no rascunho da poesia...
Pouso Alegre (MG), 12 de julho de 1989.
Otail Santos de Oliveira
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