quinta-feira, 4 de junho de 2015

Devaneios IV

E eu que olhava o espaço das minhas mãos,
a gula desmedida dos meus olhos na amplidão dos meus braços;
e eu que chorava o medo na escuridão da noite,
alienada de mim, minh’alma voava pela negritude infinita da madrugada;
e eu que fugia das mentiras da minha boca,
viajando pelas verdades das minhas pernas;
e eu que nunca pude dizer não aos impulsos,
levei meu destino ao encontro inevitável com o meu não!
Ah vida abstrata, sombra ancestral traçando o futuro:
- Para onde irei além destes poucos sonhos???
Ah juventude escorrida dentre os dedos:
- Leva a saudade dos meus dias azuis...
- Devolva a esperança a esses anos que estão por vir...

E eu que vaguei pelas margens do rio, rolando pela correnteza amarga;
o grito da morte, a angustia dos que ficaram pelos sumidouros...
e eu que abri as portas do meu peito aos amigos necessitados,
ladrões sorrateiros, traidores da minha inocência;
e eu que engoli os temperos desses dias tempestuosos,
comendo migalhas e restos dos soberbos bondosos;
e eu que acreditei na felicidade de muitos, e,
aos poucos, nem uma fagulha do sorriso nas bocas da fome!
Ah vida escondida, histórias de folhetim, roubando o espaço:
- Por que devo ir somente até estes poucos sonhos????
Ah juventude apodrecida nos galhos:
- Leva esta existência perdida pelos passos...
- Devolva a plenitude do amor no rascunho da poesia...

Pouso Alegre (MG), 12 de julho de 1989.

Otail Santos de Oliveira

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