...
Deixaste em mim tua lembrança como estrela...
Aproximaste
de mim como um sopro de inverno
Buscando
os campos.
Tu não
pousaste em meu ser
Para
serdes somente um acaso.
Serei eu,
por ventura, tua mão?
Não! Não
quero ser tua mão!
A mão
simboliza a força,
E a força
transgride a inocência...
Meu
coração não coseguiria viver além da inocência,
Minha
alma se retrai em pensar no poder da força.
Deixe que
eu seja apenas os teus pés;
Quero
levar-te até os confins deste mundo...
Mostrarei
a te as pessoas chorarem...
Os rios
inundarem as planícies e as cidades...
Tem sol
para dourar a grama verde
E fogo devorando
as florestas.
Tem
menina loira que nua se banha no riacho,
E meninos
negros, pobres, arrastando-se nos esgotos das calçadas...
Tem mel
descendo da copa das árvores,
E muita
fome na boca dos esquecidos...
Tem teu
sopro de vida na asa da mariposa,
E tua
completa omissão nos braços pendidos nos presídios...
Tu nadas
atrevida entre as trutas
Descendo
as encostas dos vales,
Mesmo
assim, olhos tristes não te enxergam na madrugada...
Tem
cascatas a chorar o adeus das águas,
E
pescador solitário a falar com as pedras...
Todo o
universo olha assustado
O
despertar da nova aurora de crianças assassinas
E pais
omissos!
E teu
nome que tantas guerras já fecundou!
Teu
cheiro que tantas mortes já velou!
O que
poderão fazer???
... Falei
de mim à tua estrela...
Quero
dormir em teu colo de mãe!
Teus
filhos imploram por teu ventre,
Querem
teus seios, suas bocas desdentadas,
Obsecadas
pela luxúria!
Usam teu
sagrado nome para conquistarem o poder,
Blasfemando
sobre teu sepulcro de paz.
Usam tua
alma como algoz,
Escravizando
as crianças...
Sequestrando
as crianças!
Como é
triste espreitar esse medo.
Tua luz
torna-se cada vez mais negra,
E tua
sorte mais distante.
Ah,
adorada estrela, antes que me leves
A ter com
as bestas,
Deixe-me
saborear teus lábios
Sabendo a
morangos carnudos.
Talvez,
deste amor impossível.
Possam os
pequenos da terra
Saciarem-se
das nossas juras,
E antes
que o dia parta, adeus!
Rio de Janeiro (RJ), 08 de novembro de 1987.
Otail Santos de Oliveira