"Oia, u mininu tá nadanu nu cochu!"
"Mais essi mininu sô!"
"Ocê num vê qui é água dus boi bebê?"
'Uai manhê, tô cum corpo cuberto de juçá, urtiga e aruera.'
"Mais ocê divia de i nu reberão."
'Riberão tá friu manhê...'
... Há tempos que se perpetuam na lembrança,
são como águas frias perambulando assustadas nas corredeiras...
são eternas mas jamais tornarão a nascente!!!
Existem tempos de prisões...
O próprio tempo nos aprisiona:
- não poder ter de volta aquele momento,
- não estar novamente bebendo aquele beijo...
quanto se passou do riacho, e eu não estava lá!
Quantas flores já cresceram nas encostas,
sem que eu pudesse me embriagar em seus perfumes...
Talvez eu esteja ficando velho...!
Olho o mar da minha janela, confundo-o com as dormideiras
na beira da trilha, na casa velha do pequeno sítio do meu avô.
Olho o mar da minha janela...
... tem menino preto vendendo balão,
outro, correndo do camburão...
os moleques da "Comendador", corriam sim, mas em confusão:
- era o pique de quarterão!
Olho o céu da minha janela e vejo um avião...
divagando penso...
Onde está o gavião???
seu voo razante buscando a presa, pobre, sem apelação...!
Tudo em volta é tão magestoso,
edifícios, carros, sonhos, sonhos... sonhos...!
Lembro o meu avô sentado a porta da casa, a velha cadeira,
o "paeiro" fumegando, espantando as moscas.
O sabiá reluzindo ao pôr do sol, o cheiro da relva,
o gado voltando dos pastos...
... e a menina sardenta de pernas finas
dependurada no alpendre com tranças avermelhadas...
Há tempos em que tudo parece tão grande,
depois,
tudo tão vago...
até tornar-se nada,
talvez saudade...!
Olho o mar da minha janela e sonho:
- "Sai du coxu mininu qui us boi tá vino!"
- "êta mininu teimoso sô! "
Otail Santos de Oliveira - Rio de Janeiro (RJ) - 01 de Outubro de 1986.
2º Lugar de Literatura no FESPROVE 1993.
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