domingo, 2 de agosto de 2009
Negro! Ô Negro?!
Negro!
Ô Negro?! Onde está o teu passado?
Perdeu-se pelas savanas da África,
Ou soçobrou com os escombros do colonialismo???
Teus olhos fogem na distância...
O que procuras?..?
Negreiros singraram os mares
Ferindo os filhos de Nagô...
Fazendo irromper das selvas,
O grito amargo de Xangô...
Está na hora Negro...
Teus antepassados amontoam-se
Pelas covas rasas desses sertões...
Trazem o cheiro da cana,
O suor do café,
Os calos do ouro,
E sempre:
- A aspereza da chibata
E a solidão das senzalas...
Há uma mancha rubra
Na amplidão verde-amarela...
Há um pesadelo de dor
Na concepção da aquarela...
Negro!
Ô Negro?! Este é o teu carnaval:
- Correr dos tiros da lei
- Roubar, matar e morrer;
Um direito só teu...
Qual é o teu caminho?
Para onde vais???
Da África trouxeste a música,
O som, os deuses e a dança...
Penetraste dentro dessa gente,
Embora para ti Negro, nem esperança!
O horizonte desta terra guarda
O suor e as lágrimas
De teus avós.
Mesmo depois de destruídos
Os porões das senzalas
E esquecidos os pelourinhos
Guardas,
Sem ter tomado parte,
Como praga hereditária,
As cicatrizes
E as feridas abertas
Do teu eterno martírio...
Negro!
Ô Negro?! Onde está o teu presente???
Pelos viadutos da iniqüidade,
Onde recebes pela vida os resquícios da morte???
Ou, pendurado pelos morros
Da “bela cidade”,
Esperando a vez de despencar
No precipício da grande chuva,
Como plebe descartável e abjeta
Dessa aí!!!... A sociedade!???
Muitos de nós brancos,
Ficaremos horrorizados
Com a tragédia, mas outros...?
Tua boca clama por piedade,
Mas o que tu precisas, Negro,
É de justiça!
Negro!
Ô Negro?! E o teu futuro?!
Aglomera-se na podridão da miséria...!?
Toma a lança dos antepassados,
Ressuscita teu Rei morto na batalha,
E parte para longe dessa mortalha!
E assim, com tua luta,
Conquistarás o respeito
Dessa tua, dessa nossa “Mãe gentil”,
Ressurgindo do quilombo teu “braço forte”,
Rompendo para sempre
Tua condição servil.
Verás da terra brotar o sonho,
De tornares, do sangue derramado,
O grande alicerce dessa pátria,
Esse gigante
Adormecido nos braços de Mãe Preta,
Que é a tua nação, Negro,
Brasil!
Otail Santos de Oliveira - Pouso Alegre (MG) - 20 de Novembro de 1994.
(3º Lugar de Literatura no FESPROVE 2007 e 2º Lugar no Concurso Zumbi dos Palmares de Literatura 2009).
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