1)
“Enquanto os
homens exercem
Seus podres
poderes
Índios e padres e
bichas
Negros e mulheres
E adolescentes
Fazem o
carnaval...
Queria querer
cantar
Afinado com eles
Silenciar em
respeito
Ao seu transe num
êxtase
Ser indecente
Mas tudo é muito mau...”
2)
“Quando você for
convidado pra subir no adro da
Fundação Casa de
Jorge Amado
Pra ver do alto a
fila de soldados, quase todos pretos
Dando porrada na
nuca de malandros pretos
De ladrões mulatos
E outros quase
brancos
Tratados como
pretos
Só pra mostrar aos
outros quase pretos
(E são quase todos
pretos)
E aos quase
brancos pobres como pretos
Como é que pretos,
pobres e mulatos
E quase brancos
quase pretos de tão pobres são tratados...”
3)
“... Quem foi que
disse que os homens nascem iguais?
Quem foi que disse
que dinheiro não traz felicidade?
Se tudo aqui acaba
em samba,
No país da corda
bamba, querem me derrubar!!!
Quem foi que disse
que os homens não podem chorar?
Quem foi que disse
que a vida começa aos quarenta?
A minha acabou faz
tempo, agora entendo por que...
Cada dia eu levo
um tiro
Que sai pela
culatra
Eu não sou
ministro, eu não sou magnata
Eu sou do povo, eu
sou um Zé Ninguém
Aqui embaixo, as
leis são diferentes...”
4)
“...
Foram tantos os pedidos,
Tão sinceros, tão sentidos,
Que ela dominou seu asco.
Nessa noite lancinante
Entregou-se a tal amante
Como quem dá-se ao carrasco.
Ele fez tanta sujeira,
Lambuzou-se a noite inteira
Até ficar saciado
E nem bem amanhecia
Partiu numa nuvem fria
Com seu zepelim prateado.
Num suspiro aliviado
Ela se virou de lado
E tentou até sorrir,
Mas logo raiou o dia
E a cidade em cantoria
Não deixou ela dormir:
Tão sinceros, tão sentidos,
Que ela dominou seu asco.
Nessa noite lancinante
Entregou-se a tal amante
Como quem dá-se ao carrasco.
Ele fez tanta sujeira,
Lambuzou-se a noite inteira
Até ficar saciado
E nem bem amanhecia
Partiu numa nuvem fria
Com seu zepelim prateado.
Num suspiro aliviado
Ela se virou de lado
E tentou até sorrir,
Mas logo raiou o dia
E a cidade em cantoria
Não deixou ela dormir:
"Joga
pedra na Geni!
Joga bosta na Geni!
Ela é feita pra apanhar!
Ela é boa de cuspir!
Ela dá pra qualquer um!
Maldita Geni!”
Joga bosta na Geni!
Ela é feita pra apanhar!
Ela é boa de cuspir!
Ela dá pra qualquer um!
Maldita Geni!”
5)
“...Tá vendo
aquele colégio moço
Eu também
trabalhei lá
Lá eu quase me
arrebento
Fiz a massa, pus
cimento
Ajudei a rebocar
Minha filha
inocente
Vem prá mim toda
contente
‘Pai vou me
matricular’
Mas me diz um
cidadão:
‘Criança de pé no
chão
Aqui não pode
estudar’
Essa dor doeu mais
forte
Por que é que eu
deixei o norte
Eu me pus a me
dizer
Lá a seca
castigava
Mas o pouco que eu
plantava
Tinha direito a
comer...”
E do alto da
cruz...:
“Pai, perdoa-os,
Porque eles ainda
Não sabem o que
fazem!”
Pouso Alegre (MG), 09 de setembro de 2010.
Otail Santos de Oliveira
1)
Podres Poderes (Caetano Veloso)
2)
Haiti (Música de Caetano Veloso e Gilberto Gil, Letra de Caetano Veloso)
3)
Zé Ninguém (Álvaro, Bruno, Miguel, Sheik, Coelho)
4)
Geni e o Zepelin – (Chico Buarque de Holanda)
5)
Cidadão (Lúcio Barbosa)
*Este poema é uma colagem. A colagem é uma
modalidade de poesia moderna onde o autor usa fragmentos de outras obras para
expor uma ideia, uma situação. Ela deve trazer no final o título da obra
fragmentada e seu autor, e a sua utilização não pode descaracterizar a obra
original.
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