segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Sobre nós


Sobre nós,
tudo em poucos instantes...
a luz do bar,
o sopro do silêncio
entre o alarido
das vozes...
Sobre nós,
em poucos minutos
toda uma eternidade
escrita por tortas palavras,
pensamentos proscritos
por sonhos distantes...
Sobre nós,
enquanto o vento
toca as nuvens
rumo a lua,
formando montros
de noites negras,
nos medos
escondidos em beijos...
Sobre nós,
dentro de nossas medidas,
além das nossas manias,
tudo pode esvair-se de repente...
menos essa distância
que de tão grande,
nos deixa tão perto,
como o dia e a noite
na hora do eclipse.

Otail Santos de Oliveira - Jacareí (SP) - 28 de Novembro de 1996.

Da timidez


Por sobre a mesa branca,
perdidas entre copos,
descuidadas entre
o cinzeiro e a garrafa,
minhas mãos
procuravam entender
por que as suas
atreviam-se a se
guardarem
entre as pernas.
Porém, depois
do beijo,
sua timidez
tomou-me de súbito,
deixando no ar
um sorriso bobo,
um tanto quanto
encabulado.

Otail Santos de Oliveira - Jacareí (SP) - 28 de Novembro de 1996.

Da brisa


Se em meio a poeira
dos meus anos
restar ainda
uma fagulha daquele amor
saibas adorada brisa
que tu serás
para sempre
o veículo
a me conduzir
pelos loucos
devaneios
deste mundo.

Otail Santos de Oliveira - Jacareí (SP) - 28 de Novembro de 1996.

Alguns devaneios


Brinco de esconder
meus silêncios.
E minha alma
fica a saborear
meus segredos.
Minha falta de palavras
cria dentro do meu coração,
um turbilhão de idéias.
Sinto seu corpo crispar-se
ao vento que passa.
E sua pele branca,
avermelhar-se com
a minha intromissão...
Tudo de nós cabe
dentro do nosso espaço.
E entre nós
brinco de esconder
meus silêncios,
segredos do amor que tenho,
verdades e mentiras
de nossas vidas.

Otail Santos de Oliveira - Jacareí (SP) - 02 de Novembro de 1996.

A Árvore


Só, por sobre a imensidão,
a solitária árvore vigia o vale.
A brisa pinta-se de verde
e as folhas voam
como pássaros em revoada!
Mesmo quando a chuva passa,
pelo vão das montanhas,
ela permanece inalterada,
sóbria, rumo a nossa eternidade.
Muitos já passaram por sua sombra,
e se foram para outros tempos...!
Alguns estão chegando agora,
e se vão, levando sua lembrança...
Mas há um futuro sobre o poente,
e a esperança de que outros virão,
e, certamente, num lampejo de olhar
poderão sentir um raio de sol
passar-lhe pelos galhos.

Otail Santos de Oliveira - Jacareí (SP) - 01 de Novembro de 1996.

Lampadário


Em vão debatem entre si as nuvens!
A tarde em tons avermelhados
busca ao vento insinuar-se
à noite, que em relances
já olha obtusa entre as montanhas...
Tenho medo dos fantasmas!
E eles não são apenas
aqueles que voam torturados...
Vejo-os agora dentro de mim.
Retoques de minha consciência
a me cobrar um passado esquecido,
porém, vivo e pronto a erupir
dos recônditos da alma.
Se me perdesse em devaneios,
talvez as recordações tornassem
apenas breves lampejos
das minhas psicoses.
Mas, pelo que sinto, já passaram
a dominar minha realidade...
De imediato, sopro pequenos insetos,
criaturas que à noite divertem-se no lampadário,
para esquecer meus temores,
e, de pronto,
confundir minha insônia!

Otail Santos de Oliveira - Pouso Alegre (MG) - 12 de Novembro de 1999.

domingo, 2 de agosto de 2009

Tchau!!!


Lágrimas nos olhos,
olvidar por um lápso de tempo
toda aquela alegria
dos muitos encontros todos os dias...
Deixar-se esquecer das pequenas rusgas,
mínimas discordâncias...
Saber que o futuro nos espera
na continuação do curso,
apenas e tão somente pelos caprichos do destino.
Lembrar sua voz amiga
dentre todas as vozes que os anos sobrepõem...
Entrar no íntimo das minhas memórias
e descortinar o desconforto de ter-lhe longe,
mesmo que por poucos dias... meses... anos... décadas...
Sabe amigo, vamos agora,
que o tempo favorece...
e lembrar-me-ei de você,
por certo, já que em meu coração
guardar-lhe-ei entre minhas melhores lembranças!

Otail Santos de Oliveira - Pouso Alegre (MG) - 10 de Dezembro de 1999.

O beijo


O beijo é efêmero,
a poesia eterna...
Teus lábios formam
o cântaro mais belo,
onde, certamente,
deitarei o vinho
de minh'alma.
Minha poesia
é efêmera...
teu beijo,
eterno!

Otail Santos de Oliveira - Pouso Alegre (MG) - 12 de Novembro de 1995.

Paisagem


Vento calmo na manhã cinzenta...
O olhar persegue, a certa distância,
uma sombra rastejante no muro branco.
Os sons se confundem aos ouvidos:
- não são pássaros nem cães...
- não são automóveis nem aviões!
Há um discreto show nos jardins,
algo como um balé de árvores semi-estáticas,
que acabam por ludibriar a própria natureza
valsando em leves passos...
Ao longe, um pardal leva no bico
o alimento para sua cria,
que na aflição da fome,
debate-se me devaneios...

Otail Santos de Oliveira - Pouso Alegre (MG) - 28 de Fevereiro de 1991.

Negro! Ô Negro?!


Negro!
Ô Negro?! Onde está o teu passado?
Perdeu-se pelas savanas da África,
Ou soçobrou com os escombros do colonialismo???
Teus olhos fogem na distância...
O que procuras?..?

Negreiros singraram os mares
Ferindo os filhos de Nagô...
Fazendo irromper das selvas,
O grito amargo de Xangô...

Está na hora Negro...
Teus antepassados amontoam-se
Pelas covas rasas desses sertões...
Trazem o cheiro da cana,
O suor do café,
Os calos do ouro,
E sempre:
- A aspereza da chibata
E a solidão das senzalas...

Há uma mancha rubra
Na amplidão verde-amarela...
Há um pesadelo de dor
Na concepção da aquarela...

Negro!
Ô Negro?! Este é o teu carnaval:
- Correr dos tiros da lei
- Roubar, matar e morrer;
Um direito só teu...
Qual é o teu caminho?
Para onde vais???

Da África trouxeste a música,
O som, os deuses e a dança...
Penetraste dentro dessa gente,
Embora para ti Negro, nem esperança!

O horizonte desta terra guarda
O suor e as lágrimas
De teus avós.
Mesmo depois de destruídos
Os porões das senzalas
E esquecidos os pelourinhos
Guardas,
Sem ter tomado parte,
Como praga hereditária,
As cicatrizes
E as feridas abertas
Do teu eterno martírio...

Negro!
Ô Negro?! Onde está o teu presente???
Pelos viadutos da iniqüidade,
Onde recebes pela vida os resquícios da morte???
Ou, pendurado pelos morros
Da “bela cidade”,
Esperando a vez de despencar
No precipício da grande chuva,
Como plebe descartável e abjeta
Dessa aí!!!... A sociedade!???
Muitos de nós brancos,
Ficaremos horrorizados
Com a tragédia, mas outros...?
Tua boca clama por piedade,
Mas o que tu precisas, Negro,
É de justiça!

Negro!
Ô Negro?! E o teu futuro?!
Aglomera-se na podridão da miséria...!?
Toma a lança dos antepassados,
Ressuscita teu Rei morto na batalha,
E parte para longe dessa mortalha!
E assim, com tua luta,
Conquistarás o respeito
Dessa tua, dessa nossa “Mãe gentil”,
Ressurgindo do quilombo teu “braço forte”,
Rompendo para sempre
Tua condição servil.
Verás da terra brotar o sonho,
De tornares, do sangue derramado,
O grande alicerce dessa pátria,
Esse gigante
Adormecido nos braços de Mãe Preta,
Que é a tua nação, Negro,
Brasil!

Otail Santos de Oliveira - Pouso Alegre (MG) - 20 de Novembro de 1994.


(3º Lugar de Literatura no FESPROVE 2007 e 2º Lugar no Concurso Zumbi dos Palmares de Literatura 2009).