Em tudo que se diz sombra,
sombra será até amanhecer!
Mas, há calmaria de estrelas,
que interpelam o silêncio das trevas,
transformando tudo em um mar de pérolas cintilantes.
Como porém romper essa escuridão espessa
cobrindo o coração?
Não é uma questão de amor esculpido na alma,
nem tampouco, paixão impregnada nos sonhos.
O pensamento transfere a magia do luar,
mas o que fazer com a cegueira da solidão?
Ela se mudou para o cume do sentido,
e de lá, jamais, jamais sairá.
Em tudo que se diz amor,
amor será até que se acorde!
O pesadelo cotidiano
transcende migalhas esperançosas,
buscando refúgio no prazer de se amar.
Enfadonho deliberadamente,
o momento rebusca cada traço de boa lembrança,
para transformá-lo em saudade.
E a saudade é algo que não morre nunca!
Vive-se dela, alimentando-a
até que se torne um gigante descomunal,
no apogeu da tragédia cômica de se perder.
Rio de Janeiro (RJ), 23 de outubro de 1987 - Otail Santos de Oliveira