quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Por de trás do muro


Por de trás do muro correm lágrimas
lágrimas de dor, lágrimas de amor
por de trás do muro ouve-se gritos
gritos de pavor, gritos de horror
e de repente o silêncio
somente o murmúrio das árvores
passeia tranquilo pela noite
por de trás do muro...

Por de trás do muro correm lágrimas
lágrimas de dor, lágrimas de amor
por de trás do muro ouve-se gritos
gritos de pavor, gritos de horror
e de repente o olvido
somente a dormência das pedras
passeia tranquila pela noite
por de trás do muro...


Por de trás do muro correm olhares
olhares malditos, olhares inauditos
por de trás do muros ouve-se sonhos
sonhos aflitos, sonhos proscritos
e de repente o silêncio
somente a brancura da névoa
sobrevive tranquila pela noite
por de trás do muro...

Por de trás do muro correm olhares
olhares malditos, olhares inauditos
por de trás do muro ouve-se sonhos
sonhos aflitos, sonhos proscritos
e de repente o olvido
somente o perfume do tempo
sobrevive tranquilo pela noite
por de trás do muro...

Por de trás do muro correm sussurros
sussurros inconscientes, sussurros dormentes
por de trás do muro ouve-se poemas
poemas doentes, poemas dementes
e de repente...
há um medo de vida
perambulando atento pela noite
por de trás do muro...

Por de trás do muro correm sussurros
sussurros inconscientes, sussurros dormentes
por de trás do muro ouve-se poemas
poemas doentes, poemas dementes
e de repente...
há uma esperança de morte
perambulando atenta pela noite
por de trás do muro...


Otail Santos de Oliveira - Rio de Janeiro - 07 de Agosto de 1986.


domingo, 18 de outubro de 2009

Favela Nova República


A noite guarda o sol em seu bolso longo...
Além, no resto, um rastro ruborizado...
O silêncio invade a metrópole,
em seu retornar cansado...
Vácuo na distância... !!!!!!
o que era murmúrio
torna-se uma convulsão dilacerante...
o que era imprudência
será impunidade...
e o retorno
já é fuga!
... Silêncio... explosão ... Silêncio!!!!
Vozes procuram sufocados socorros;
desesperadas, pás vão atrás de mãos desamparadas...
Na vala comum, vidas lamentam,
mortes brotam do chão remexido.
A noite guarda o sol em seu bolso,
enquanto via satélite, o mundo assiste
quedado de horror, a tragédia...

Não chore Fernanda,
já é hora de dormir nas mãos dos anjos.



Otail Santos de Oliveira - Pouso Alegre (MG) - 25 de Outubro de 1988.

Prosa de Mineiro


"Oia, u mininu tá nadanu nu cochu!"
"Mais essi mininu sô!"
"Ocê num vê qui é água dus boi bebê?"
'Uai manhê, tô cum corpo cuberto de juçá, urtiga e aruera.'
"Mais ocê divia de i nu reberão."
'Riberão tá friu manhê...'

... Há tempos que se perpetuam na lembrança,
são como águas frias perambulando assustadas nas corredeiras...
são eternas mas jamais tornarão a nascente!!!
Existem tempos de prisões...
O próprio tempo nos aprisiona:
- não poder ter de volta aquele momento,
- não estar novamente bebendo aquele beijo...
quanto se passou do riacho, e eu não estava lá!
Quantas flores já cresceram nas encostas,
sem que eu pudesse me embriagar em seus perfumes...
Talvez eu esteja ficando velho...!
Olho o mar da minha janela, confundo-o com as dormideiras
na beira da trilha, na casa velha do pequeno sítio do meu avô.
Olho o mar da minha janela...
... tem menino preto vendendo balão,
outro, correndo do camburão...
os moleques da "Comendador", corriam sim, mas em confusão:
- era o pique de quarterão!
Olho o céu da minha janela e vejo um avião...
divagando penso...
Onde está o gavião???
seu voo razante buscando a presa, pobre, sem apelação...!
Tudo em volta é tão magestoso,
edifícios, carros, sonhos, sonhos... sonhos...!
Lembro o meu avô sentado a porta da casa, a velha cadeira,
o "paeiro" fumegando, espantando as moscas.
O sabiá reluzindo ao pôr do sol, o cheiro da relva,
o gado voltando dos pastos...
... e a menina sardenta de pernas finas
dependurada no alpendre com tranças avermelhadas...
Há tempos em que tudo parece tão grande,
depois,
tudo tão vago...
até tornar-se nada,
talvez saudade...!
Olho o mar da minha janela e sonho:
- "Sai du coxu mininu qui us boi tá vino!"
- "êta mininu teimoso sô! "



Otail Santos de Oliveira - Rio de Janeiro (RJ) - 01 de Outubro de 1986.
2º Lugar de Literatura no FESPROVE 1993.

Balada da Morte do Cão



O cão está morto!

Quem matou o cão?

Foi o homem da espingarda grande?

Ou o motorista na contramão?????

Mas o cão está morto,

e quem se culpará por isso?

A velha lavando a roupa no quintal?

Ou o empregado escravo submisso???!

Não se importem com o cão,

era um animal dito irracional:

- matá-lo não foi um crime,

nem mesmo pode se dizer que é um mal...

Mas o cão está morto!

Mortinho ali feito um "cachorro".

Que latidos poderá o pobre ladrar?

Que anjos virão em seu socorro????

Pobre e solitário cão,

morto com um ser qualquer...

Quem matou o descuidado cão?

Quem lhe deu o desprazer de morrer?

Quem lhe deu o desprazer??

Quem lhe deu???

Quem????...!

O cão está morto!

Nada mais importa.

Nem as lágrimas da menina,

chorando atrás da porta...

Era a sua dona a pequenina,

e o criara desde nascido

pra vê-lo morrer, pobre vagabundo,

nas mãos de um destino atrevido.

O cão está morto!

Quem matou o cão?

Foi o homem na contramão

ou o motorista com a espingarda grande????

Há há há há há há há há há há...!!!

Ninguém irá rezar por sua alma,

coitada, queimará no inferno...

... (dos cães é claro!)

Quem matou o cão?

Quem matou??

Quem???

Diga-me Senhor do eterno!!!

Mas tarda o sol no horizonte,

e o pobre ali sozinho...

Como pude presenciar tão triste episódio

no meu festivo caminho?

De que vão adiantar minhas palavras

nesse desalmado mundo???

Palavras não vão fazer com que se comovam

as pessoas, por um simples vagabundo.

Não chore minha menina,

seu cão certamente está dormindo

nas mãos de algum anjo... (cão anjo é claro!).

O cão está morto!

Quem matou o cão?

Foi o homem da espingarda grande?

Ou o motorista na contramão????


Otail Santos de Oliveira - Pouso Alegre (MG) - 11 de Março de 1983.